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    Cheguei a tempo de te ver acordar
    Eu vim correndo à frente do sol
    Abri a porta e antes de entrar
    Revi a vida inteira

    Pensei em tudo que é possível falar
    Que sirva apenas para nós dois
    Sinais de bem, desejos vitais
    Pequenos fragmentos de luz

    Falar da cor dos temporais
    De céu azul, das flores de abril
    Pensar além do bem e do mal
    Lembrar de coisas que ninguém viu

    O mundo lá sempre a rodar
    Em cima dele tudo vale
    Quem sabe isso quer dizer amor
    Estrada de fazer o sonho acontecer

    Pensei no tempo e era tempo demais
    Você olhou sorrindo pra mim
    Me acenou um beijo de paz
    Virou minha cabeça

    Eu simplesmente não consigo parar
    Lá fora o dia já clareou
    Mas se você quiser transformar
    O ribeirão em braço de mar

    Você vai ter que encontrar
    Aonde nasce a fonte do ser
    E perceber meu coração
    Bater mais forte só por você

    O mundo lá sempre a rodar
    Em cima dele tudo vale
    Quem sabe isso quer dizer amor
    Estrada de fazer o sonho acontecer

     

    Essa música escrita pelos irmãos Borges e eternizada na voz de Milton Nascimento fala de amor. O amor puro e simples que não quer nada em troca e que apenas deseja o crescimento do ser que amamos. Nossos filhos nos encantam a partir do momento em que chegam a nossas vidas. Eles nos fazem terra fértil para um sentimento que jamais pensamos vivenciar tão profundamente: esse amor sobre o qual versa a canção. Um amor que é caminho para sonhos se tornarem realidade e que é a mais pura fonte do SER. Nadando por águas do amor parental, experimentamos as mais fortes emoções e nos vemos capazes de caminhar pelas mais paradoxas realidades: sentimo-nos super-heróis e impotentes; corajosos e frágeis; certos e inseguros. Queremos sempre o melhor para nossos filhos, mas o que é esse melhor? Como fazer isso acontecer? Qual o limite? O que esperam de mim? O que eu espero de mim enquanto atuante da parentalidade?

    Estamos há mais de 20 anos do início do século 21 e muito se falou, na sua virada, sobre a educação e os envolvidos. Não há receita para ser pai no século 21. Não houve nos séculos anteriores e não haverá. A parentalidade é exercida por seres únicos para seres igualmente únicos. Somos todos igualmente únicos e isso nos tira da linha de montagem e produção de manuais e livros de receitas. O que podemos falar sobre parentalidade está no âmbito da parceria. Não podemos exercer uma parentalidade sem nos colocarmos nesse lugar de amor onde está a fonte do ser. Ser filho e ser pai. Ser pai no século 21 requer a coragem de sair da caixa da perfeição na qual as mídias sociais nos colocaram e entender que a frase clichê é verdadeira: construímos o caminho enquanto caminhamos. O caminhar da parentalidade se faz com erros, acertos e reflexões. Humildade e escuta. Sempre sonharemos com o melhor para nossos filhos e sempre buscaremos isso. No nosso caminho parental, tentamos antecipar a necessidades de nossos filhos, planejar o seu sucesso acadêmico e proporcionar as melhores experiências com atividades úteis e prazerosas. Tudo isso ainda pensando que temos que oferecer um lar harmonioso e pacífico. Poxa vida! Cansa só de ler! Imagina viver?! Dia a dia, todos os minutos… Por isso, a palavra-chave é essa mesmo: parceria. Na parceria, pais se colocam como seres “em construção” com direito a falhar e, principalmente, com direito de escutar e aprender. É no diálogo que se constrói o ambiente mais propício para aprendizagens significativas. Aprendizagens que realmente transformam e trazem o desenvolvimento. A paternagem se constrói junto com os filhos. Com os avós. Com a escola. Com a reflexão sobre as relações. Quando nos colocamos aprendentes na paternalidade, nos colocamos humildes e frágeis para exercitar a escuta ativa. A escuta que dialoga. Dialoga em palavras ditas e refletidas. Quando escutamos alguém ativamente, deixamos que as palavras reverberem dentro de nós e conversem com nossas experiências pessoais. No caso dos pais, essas palavras ecoam nos nossos papéis de filhos, nas relações com nossos pais e no que sonhamos para nossos próprios filhos, tendo por base as nossas experiências. O diálogo de parceria traz não o manual, mas as possibilidades de uma parentalidade mais saudável para os pais e filhos.

    Uma coisa interessante, simples e que pode se tornar um exercício de construção da parentalidade está no ato de focar em momentos onde você sentiu orgulho de sua parentalidade. Não se trata do orgulho que motiva uma postagem nas mídias sociais, mas coisas corriqueiras, como conseguir dar banho e fazer com que seu filho coma tudo; ou contar uma história antes de dormir ou conversar com seu filho e ver em seus olhos aquela curiosidade mágica sobre o que estará por vir… ser pai, no passado, hoje e sempre, está no presente e no diálogo.

    Sempre lembre que, mesmo com os benefícios do mundo virtual, é no mundo real que as relações significativas se estabelecem e se fortalecem. É no exemplo que nossa voz ganha força e poder. Na construção a muitas mãos e na ação que vem de sua vontade de estar presente e ser presente. Daqueles que nem Papai Noel coloca na árvore. Aqueles presentes que são tão fantásticos e especiais que a gente guarda na memória, não porque foram caros, mas porque foram vivenciados juntos. Um banho de mangueira; aprender a andar de bicicleta; quando, mesmo com raiva, a gente tinha que “raspar o prato” pra ter direito ao brigadeiro depois do almoço. Você lembra ter vivido isso? Você consegue lembrar de ter vivido coisas simples assim, com seus pais ou avós? Pois é disso que se trata o manual: construir memórias juntos. Simples. Sem uma postagem, mas que ficam para posteridade dentro de vocês e dos filhos de vocês. Afinal, o mundo vai sempre rodar. Não há certeza sobre o que é certo ou errado, na tentativa de exercer o amor parental.

    Quem sabe isso quer dizer amor
    Estrada de fazer o sonho acontecer…

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